cortante

a realidade, ela própria, era algo que não sabia se existia. tudo estava em ordem sobre a mesa de balanço, que gingava sem derrubar talheres, pratos, copos. só a cadeira insistia na desordem de não seguir o fluxo e permanecia.

não entendia como isso podia ser a realidade, se é que ela existia. mas era. e ela sabia. e foi nesse desequilíbrio que conseguiu, como se diz, “tirar a mesa”. levou pratos, copos, talheres para a pia, que também balançava. e por pouco um dos copos não foi ao chão.

aparou como pôde e o copo permaneceu intacto. mas trincou a realidade. pensou se a realidade também era de balanço… pensou melhor e percebeu seu fino cristal, já que não resistiu à quase-queda do copo.

encheu de água a realidade. passou o dedo na língua e roçou em sua beira e tirou um som partido de sua boca. cortou o dedo. chupou o sangue da realidade que lhe habitava.

depois a envolveu com notícias de outras realidades e colocou no lixo com o aviso “CORTANTE”.

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