Não há poema sem riscos.
Arrisco dizer
Que há sempre
O risco
De ser raso,
De ser riso,
De não ouvir
O instinto…
Há sempre
Que se arriscar
O salto no infinito
E viver o risco:
Ou raso. Ou riso.
Quiçá, poema.
Poesia pode ser o que você quiser. Principalmente, caminho.
Não há poema sem riscos.
Arrisco dizer
Que há sempre
O risco
De ser raso,
De ser riso,
De não ouvir
O instinto…
Há sempre
Que se arriscar
O salto no infinito
E viver o risco:
Ou raso. Ou riso.
Quiçá, poema.
libero os dedos
e deixo sair o que for
deixo vir tudo
que o tempo é curto
a vida é breve
mas o poema
fica reverberando
no ar
deixo sair
os dilemas
deixo vida
ser tema
deixo a poesia
levar o barco
lanço ao mar
garrafas-poemas
e sou onda
e onde o poema chegar
eu aporto meu caos
e sou cais
deixo a poesia
encher meus olhos d’água
e irromper no papel
porque escrever
é mato
e eu mato e morro
por um verso
à flor da
poesia-pele
cem dias de poemas
nem eu sabia
que era consistência
a matéria do que sou
cem dias de poemas
e não tem jeito
o cansaço entra em cena
cem dias, cem poemas…
quem diria!
enxerguei o silêncio
estava pousado
na janela
me olhava
com tempo de nuvens
querendo chover
bastou
um passarinho abrir o bico
ele desatou a falar
choveu em mim
tudo que ele
insiste em guardar
até o céu
de seu tempo se abrir
depois
se lançou
no primeiro vento
que passou
os silêncios
gritam
fazem tanto barulho
que nem consigo me ouvir
as entranhas
gritam
movimentam-se
desconexas
à exaustão
as ruas
gritam
ouço os estalos
nas mãos das crianças
elas não gritam
tento pensar alto
ensaio um
grito
mas ele eclode por dentro
e se dissolve
em silêncio
e medo
quero ser corpo
e seguir marcando o chão
com o peso
dos meus passos
pisar leve
e medir o espaço
que ocupo
a partir do rastro
que deixo
no ar
farejar o norte
pelo que me dizem
as mãos
ser corpo
escrevendo
direção
alguma coisa
acontece:
saí
de dentro
do poema.
alguma coisa sai…
dentro do poema
acontece.
coisa alguma
acontece,
saí do poema.
o poema
dentro
sai
coisa.
acontece.
dentro coisa.
poema alguma.
saí…
costumava
reclamar dos dias
das notícias
reclamava,
ora bolas
reclamava tanto
que se passavam
horas
e já era hora
de reclamar que o dia acabou
até que
o jogo virou
sentia saudade
dos dias de que tanto reclamara
das notícias
das horas
saudade, ora bolas
e era tanta a saudade
que não via passar
o dia
reclamava
saudade, sabe?
nunca mais
se acostumou
vestida de avesso
segui o dia
de onde não estava
olhei o tempo
e o vi passar
era como se
água jorrasse
de uma torneira
que alguém esqueceu
aberta
e o tempo
fosse
indo
ralo
abaixo
tentei fechar
a torneira
mas o tempo
continuava
sua cachoeira
aparei com as mãos
o que pude
lavei o rosto
com os restos
de horas
me vi avesso
e o dia seguiu
o amor é calma
onde habito
tem silêncio e gemidos
sussurro ao pé do ouvido
invade as horas
e faz sonhar sem dormir
guarda sorrisos
pra dias sem sol
conhece as curvas e retas
da estrada que sou
e não tem pressa de chegar
desfruta o caminho
com a calma
de saber habitar
o amor