quando o que
resta é sombra
tudo
o que sobra
é resto?
SO(M)BRAS
minhas
sombras
sobram
sobre
mim
antes
fosse
fim
ser
sombra
fato
sobrar
sombra
é
sobre
ser
apenas
começo
luz-e-som
muita luz
para ofuscar
as sombras
que sobram
sobre mim
muita luz
para calar
os medos
que medem
quem sou
muita luz
pra acalmar
a ansiedade
que ansia
uma voz
outras
coragens
pra ser
de novo
luz
se sabendo
sombra
INDESCULPÁVEL
sinto muito
vendo os papeis
sobre a mesa
sinto
as canetas dispostas
de qualquer forma
sinto muito
querendo que eles
me invadam
e sejam poesia
sinto
querendo ser
o que outrora
já fui melhor
sinto muito
nessa tarde de
barulhos dentro
e fora de mim
só sinto
sinto muito
desabapoema
quando pareço
desabar
corro
pro poema
e poeta
faço minha
cena, dou
trela
estremeço os verbos
pra ver o que cai
às vezes
desabo
no choro
outras
em mim
MAR
o mar
me descreve
cheias
vazantes
marés
se inscrevem
no que sou
e no meio
do verso
da página em branco
sou água
e vou derramando
tudo
tudo
muito
muito
até
entrar
um sol
por dentro
e quarar
minha
voz
ar
um mar
me escreve
AR
o ar
me escreve
a sua falta
dá ritmo
à minha
voz
no meio
do verso
do ser que sou
sou essa voz
que não sai
quando o ar
acaba
e sou horas
descobrindo
pausas
na altitude
do meu verso
para lidar
com a escassez
recorrente
de
ar
até entrar
uma corrente
um vento
por dentro
um
mar
o ar
me descreve
AGUARDADOS
guardados
a quantas chaves
não sei
os poemas
que existem
em mim
insistem
em ser
e quando viro
suas chaves
eles assumem
quem sou
e são
e me guardam
para eu poder ser
quando eles
se forem
reais
que me sejam
mas a quantas chaves
me guardam
não sei.
MISSÃO
os poemas
me acontecem
apesar dos dias
eles me acontecem
me enredam
e me são
e talvez porque
eles me aconteçam
que me salvo
de ser
sã
missão de ser
poeta
PRENÚNCIO
vivo
na iminência
do poema
que me habita
na beira
do precipício
do verso
que será
que virá?
o voo
sem asas